É preciso procurar cidadãos de cabelos brancos para ouvir recordações de cenas semelhantes à que se assistiu hoje, em Brasília.
Os cavalos, o gás lacrimogêneo, as balas de borracha e os cassetetes contra estudantes foram um traço típido do regime militar em sua agonia, quando o Comando Militar do Planalto assumiu o controle sobre a cidade para tentar reprimir protestos de rua e atemorizar a oposição parlamentar.
Hoje, a PM foi à rua para reprimir estudantes que querem o impeachment de José Roberto Arruda.
Eleito por voto popular, o governador tem o direito de tomar todas medidas legais para manter-se no cargo. Mas isso não inclui convocar a tropa de choque para agredir os estudantes, que exercem liberdades politicas duramente conquistada naquele período da história em que os patronos do partido de Arruda, o DEM, governavam o país com apoio dos generais.
A brutalidade da reação de Arruda já podia ser antecipada ontem, na desocupação da Câmara Legislativa. Dezenas de cabos eleitorais com emprego público foram chamados para agredir e provocar os estudantes, num ambiente de tensão e troca de palavras-de-ordem que esteve perto do confronto físico. Soldados da PM circulavam entre os estudantes, à paisana, numa atitude de quem poderia entrar em ação a qualquer momento.
A reação de Arruda só terá alguma utilidade quando ele se mostrar capaz de dar respostas no terreno democrático, oferecendo explicações racionais e cíveis sobre as imagens em que aparece recolhendo dinheiro de caixa 2. Enquanto isso não ocorrer, os protestos irão continuar e devem crescer — até porque é impossível não ficar indignado diante de um ataque às liberdades públicas. Menos de 100 estudantes ocuparam a Câmara Legislativa. Falava-se em 5 000 no protesto de hoje. Imagine quantos estarão presentes nas próximas.