sábado, 6 de fevereiro de 2010

MODESTA ANALOGIA


O PENSADOR GABRIEL PEGA LADRÃO

JUSTIÇA QUAL O SEU PREÇO ?

No Brasil, existe a “Justiça” e a Justiça. Existe o poder e tudo o que está implícito quando ele é invocado. Pode soar como coletivo majestático ou pejorativo.


A Justiça sem aspas é igual para todos. Com aspas, vê mais igualdade em alguns do que em outros. Sem aspas, A Justiça é cega. Com aspas, exibe um olfato invejável.

A Justiça sem aspas assegura direitos iguais para todos. Com aspas, impõem mais deveres a alguns do que aos outros. Sem aspas a Justiça busca o restabelecimento da verdade. Com aspas, empresta legalidade à mentira.

Nos últimos anos, ao mesmo tempo em que a Justiça tornou-se mais acessível, a “Justiça” foi virando algo vago, impalpável.

Hoje, a Justiça é busca da justa reparação, mas a “Justiça” também é encontro com injustiças irreparáveis.

A Justiça é perspectiva de punição, mas a “Justiça” também é solidificação da impunidade.

A Justiça é a que tarda, mas não falha, mas a “Justiça” também é aquela que não chega e deixa prescrever.

A Justiça é justiça extrema, mas a “Justiça” também é extrema injustiça.

Sabe-se que, no Brasil, o defensor dos direitos humanos é um reacionário que ainda não foi assaltado. Sabe-se que o político progressista é um conservador que ainda não chegou ao poder.

Pois descobre-se agora que o juiz, o desembargador e o ministro do tribunal superior pode ser o incorruptível que ainda não foi submetido à sedução de um bicheiro ou ao flerte de um bingueiro.

Súbito, a Justiça vê-se compelida a expedir mandados de prisão para recolher a “Justiça” ao xilindró. A Justiça concede autorização para que os telefones da “Justiça” sejam grampeados.

A Justiça ordena à polícia que faça operações de busca e apreensão nos gabinetes e nas casas da “Justiça.” A Justiça bloqueia os bens da “Justiça”.

Quem observa a cena à distância fica confuso. A perspectiva de uma definição desse emaranhado que se convencionou chamar de Justiça –ou de “Justiça”— é cada vez mais remota.

Chegou-se a um ponto sem volta. Ou a Justiça acaba com as aspas, punindo exemplarmente eventuais malfeitores da “Justiça”, ou as aspas acabarão com o que resta dela.


VENEZUELA URGENTE: CHÁVEZ NA CORDA BAMBA

O ego de Hugo Chávez não para de crescer. É difícil encontrar na política alguém com ego maior do que o dele. E olha que os políticos têm egos inflados por natureza. À medida que o ego de Chávez cresce, o seu governo vai se desmanchando, como um bolo disforme e indigesto, com renúncia de vice-presidente, ministros e assessores, num efeito dominó que não cessa. O “grande revolucionário” venezuelano Chávez, que apostou todas as suas fichas no preço internacional do petróleo, quando estava alto, não se preparou para governar o país quando o preço abaixasse.

Com a cotação lá embaixo, Chávez governa a Venezuela com mãos de ferro, sem o mínimo tato, vê a inflação e o desemprego disparando e não faz nada além de fechar lojas e empresas estrangeiras, além de suspender canais de televisão que não transmitem os seus discursos.

Após ter mudado a Constituição para se manter no poder até que a morte o separe dele, Chávez cada vez mais se isola, permanecendo na corda bamba de um populismo sem metas, distribuindo bolsas e mais bolsas, que não contemplam a melhoria de infraestrutura na educação, na saúde e na geração de empregos e de energia.

Com isso, apagão é uma palavra que passou a fazer parte do cotidiano dos venezuelanos e a escuridão entra em cena nas mais diversas circunstâncias: numa cerimônia de casamento, em um jogo de beisebol, futebol ou basquete ou mesmo na exibição de um filme com plateia lotando a sala e tendo que ir embora porque apagou tudo.

Chávez, mesmo que os seus aliados digam o contrário, é o revolucionário de si mesmo, se não fosse assim, não perderia em tão pouco tempo a base do seu governo, que está indo embora para casa com as mais variadas desculpas para escapar da ira do caudilho, que se considera o grande líder da América, que um dia declarará guerra à Colômbia e, quem sabe, mais tarde, aos Estados Unidos.

Chávez é a reencarnação de Fidel Castro, mesmo Fidel ainda estando vivo, e de todos os outros ditadores da América, que viveram no século XX e nos anteriores. O seu discurso já azedou faz tempo e sua popularidade diminui quanto mais falta alimento nos supermercados e dinheiro no bolso dos venezuelanos.

Até quando o seu governo durará, esse é um enigma que só será decifrado com o tempo. A tendência é que Chávez endureça mais e mais o seu regime até um limite insuportável. Aí, quando os protestos aumentarem nas ruas, provavelmente partirá para uma repressão com muitas mortes e falará cada vez mais sozinho que ele é o maior líder do planeta e que o mundo um dia irá se render ao seu comando.

Pobre Venezuela, que se tornou um país sem voz e sem liberdade. Só há a voz de Chávez gritando por todos os cantos e a sua imagem reproduzida em outdoors, como se ele fosse o salvador da pátria. A história se repete, com novos tiranos, novos endereços e os discursos de sempre, que assassinam as palavras e ameaçam vidas.

ARTIGO: (O 
autor é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação. jaimeleitao@linkway.com.br)
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