O Natal é sempre uma ocasião bastante oportuna para todos nós refletirmos, pelo menos um pouco, sobre aquelas coisas que realmente são importantes em nossas vidas. É um momento especial no qual podemos renovar o nosso espírito de esperança e fé, e então continuarmos a viagem da vida com mais força, determinação e coragem. O Natal é também uma oportunidade para observarmos e avaliarmos o nosso comportamento em relação a ele próprio, principalmente a ideia que temos sobre o nascimento de Jesus.
Descobri que Papai Noel era um sujeito financista, e que de nada adiantava montar uma árvore de Natal nem colocar o sapatinho na janela, porque com ele o negócio era pagamento à vista, ou parcelado no cartão. Vi que trenó não subia favela, a não ser que ele fosse de algum grupo de caridade, ou daqueles que doam alguma coisa nesta época apenas por descargo de consciência, ou porque, talvez, acham que barriga de pobre só dói uma vez por ano. Vi ainda que as confraternizações eram verdadeiros eventos culinários, e que pratos, talheres e copos refletiam mais o momento do que as mentes ansiosas por comida e bebida.
Por fim, vi que o Natal era apenas uma tradição que já havia perdido, há muito tempo, grande parte do seu significado original, e que por isso havia se transformado praticamente em apenas mais uma data festiva do calendário.
Afinal, no fundo, a gente nunca deixa de ser criança. O que acontece é que, à medida que vamos crescendo, os adultos vão nos ensinando a mentir. E, muitas vezes, acabamos mentindo mais para nós mesmos do que para os outros. E uma das grandes mentiras que alimentamos é a de que gente grande não pode sonhar como criança, porque confundimos “sonhar como criança” com “agir como criança”. Penso que, da mesma forma como aquele nosso lado infantil é considerado um sonho diante dessa realidade, podemos também considerar que essa realidade é um pesadelo diante dos sonhos da gente. Portanto, somos nós que decidimos como encarar a vida, se queremos nos entregar a uma realidade dura ou a um sonho macio. Assim como nas histórias de Papai Noel, a vida também é feita de sonhos. Mas, para realizá-los de verdade, é preciso voltar a olhar e a sentir o mundo com olhos e coração de criança. E se, de repente, alguém achar que tudo isso é apenas uma grande fantasia, por pensar que só se pode acreditar naquilo que é palpável, com certeza é porque ficou adulto demais.
Texto: Alexandre Reis.