O lazer é essencial para a sobrevivência do homem. Ter um “hobby” é um hábito muito positivo. “Hobby” para ser importante tem que se revestir de certo compromisso, ou seja, deve nos ocupar com alguma constância.
Como esses passatempos são principalmente para desviar a atenção das pessoas em relação a seus trabalhos rotineiros, não é válido fazer do trabalho um “hobby”.
Ser um “workólico”, um alucinado pelo trabalho, é uma doença que deve ser combatida.
As atividades prazerosas que quebram a rotina do dia-a-dia são encaradas como minúsculas férias que ajudam a viver mais e melhor.
Procure caro leitor ter um derivativo que possa lhe trazer momentos de alegria e satisfação. Todo mundo tem dentro de si um recurso de lazer embutido. É só deixar fluir o que cada um tem de vocação menor.
As férias oficiais complementam esse ócio positivo. São também muito importantes para nosso equilíbrio de vida. Desfrutá-las com intensidade é alongar a vida.
Porém o costume de férias corridas de 30 dias, imposição legal, não é tão legal assim.
Aguardar 11 meses de trabalho para descansar 30 dias é extremamente irracional.
Podemos aceitar apenas para pessoas que com dinheiro curto têm a oportunidade de fazer uma bela viagem que certamente, com mais tempo, pode ser mais completa e especialmente mais barata.
Como a maioria do nosso povo ganha apenas para comer, morar e se locomover tem que se contentar com férias em casa, ou então na casa de parentes que moram nas proximidades.
Férias em casa é um puro tédio. Férias na casa dos outros incomodam os hospedeiros e limitam o hospedado.
Como disse e volto a enfatizar, férias de 30 dias é sinônimo exato de tédio. A pessoa, já no décimo dia, por incrível que possa parecer, sente saudade do trabalho. Pode uma coisa dessa?
No vigésimo dia o cansaço do ócio e a insônia do néscio incomodam, muito mais do que o enjaular do trabalho.
O vacante trabalhador começa a espraiar seu desespero para os familiares e circunstantes, gerando logo comentários e gritas do tipo “que bom só faltam dez dias”, “você é um prego dentro de casa”, “sua figura roçando na gente é de lascar” etc.
Esses comentários são sobre os homens, especialmente os maridos. Agora, quando as férias são da locomotiva da casa, ou seja, a companheira devota e massacrada, o conceito de férias é simplesmente absurdo. Férias para dona de casa é trabalho dobrado. Ela se cansa bem mais que na lida de seu trabalho. Para mulher, em geral, férias tem o gosto de punição. Para elas já no terceiro dia a vontade é voltar rapidinho para as obrigações assalariadas.
Como meus artigos têm que ter sempre um caráter positivo, após todas essas desventuras, apresento uma solução que me parece ideal para o descanso das pessoas.
Todo trabalhador deveria ter três períodos de dez dias de férias no ano. Assim de quatro em quatro meses haveria um descanso de dez dias.
Bom para quem tira as férias, pois não chega a se extenuar com o trabalho seguido de onze meses e também não se cansa das férias.
Bom também para o empregador que fica um período menor sem a ajuda de seu funcionário, o que desafoga o serviço dos que compensam a folga do colega.
Caso o trabalhador consiga situar seu período de descanso de dez dias na sequência de feriados maiores – Natal, carnaval, semana santa – poderá ganhar ainda mais alguns dias.
Consegui vender essa idéia para algumas firmas e fábricas e os resultados foram excelentes.
Não podemos deixar de comentar sobre o absurdo que é a chamada venda de férias.
As férias são necessárias para que se possa viver melhor, com mais saúde e disposição. Faz parte do jogo da sobrevivência. Assim quem vende férias está vendendo um pouco de sua saúde.
Entendo que os assalariados no Brasil são muito mal remunerados e que muitos usam desse recurso para aumentar suas rendas. Devemos, entretanto, lutar para que problemas sociais graves não gerem problemas de saúde física e mental maiores ainda e, o que é pior, irreversíveis.
(*) GERALDO SIFFERT JÚNIOR Médico. Ex-Professor Titular do Curso de Mestrado em Gastroenterologia da PUCRJ. Ex-Secretário-Geral da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Editor-Chefe da Revista DIA-A-DIA GASTROENTEROLOGIA.
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