quarta-feira, 16 de março de 2011

ENERGIA NUCLEAR RUIM SUJA E CARA

SÃO PAULO - O medo de um grande acidente nuclear que hoje vive o Japão deveria desestimular projetos de construção de usinas nucleares no Brasil, opina o professor Joaquim Francisco de Carvalho. Ele, que já foi um dos diretores da empresa responsável pelas usinas de Angra 1, 2 e 3 (antiga Nuclen, hoje chamada de Eletronuclear), acredita que o Brasil não precisa correr tamanho risco e revela: "Há um lobby violentíssimo da indústria nuclear".
"As empresas em países mais desenvolvidos investem muito em lobby", diz. Para aliviar o custo deles, eles empurram para cima da gente", critica Carvalho, que também chegou a atuar como coordenador do setor industrial do Ministério do Planejamento. Ex-defensor da energia nuclear, tornou-se crítico. "Saí por isso mesmo, não concordava com essas coisas".
O Japão vive o temor de um vazamento nuclear de grandes proporções depois que o terremoto no país afetou o sistema de refrigeração de três dos seis reatores de Fukushima, ao norte de Tóquio. Nesta segunda-feira, a Marinha dos Estados Unidos confirmou que detectou vazamento de radiação no local, embora tenha afirmado em comunicado que os níveis eram baixos.




Carvalho, hoje aposentado e professor da Universidade de São Paulo, calcula que apenas sistemas hidrelétricos, eólicos e térmicos seriam suficientes para gerar energia para a população brasileira até 2040. Até lá, os brasileiros deverão somar 215 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Eletronuclear se antecipou nesta segunda e declarou que as usinas de Angra têm barreiras de aço para proteger contra terremotos. Qualquer usina é projetada dessa forma, rebate o especialista. Ainda assim, os acidentes acontecem porque "não há obra completamente segura". "Correr esse risco quando não se precisa é burrice", conclui.
Leia a entrevista.
 O senhor acha que o acidente no Japão vai comprometer investimentos em projetos para energia nuclear, como os que o Brasil tem pendentes?
Joaquim Francisco de Carvalho - O Brasil simplesmente não precisa correr o risco de usar usinas nucleares para gerar energia elétrica. O Japão infelizmente correu o risco e aconteceu esse terremoto horrível. Mas eles não tinham alternativas. A França também não tem alternativas e corre um risco grande se houver um acidente nuclear. A Alemanha tem consciência disso e a chanceler Angela Merkel suspendeu o plano que estendia o prazo de vida de usinas nucleares no país. Isso porque a Alemanha não tem os recursos hidrelétricos que o Brasil tem. Está investindo pesadamente em energias alternativas.
Quais são as opções alternativas?
O potencial eólico no Brasil é muito grande. E não é aproveitado. Ele pode ser interligado à geração hidráulica de forma que não exista o problema que existe em outros países, de uma geração intermitente. E ainda contribui para quando há seca.
O acidente muda um pouco a ideia de que a energia nuclear possa ser vista como energia limpa, não?
Sem dúvida, não é assim. Eu ainda estou muito abalado com isso que aconteceu no Japão, mas eles correram o risco.
No Japão, três reatores superaqueceram. Esse é um risco sabido?
Nenhuma obra é perfeita. É um risco pequeno, mas é um risco. E se não há necessidade, não há porque correr esse risco. O Japão fez essa opção porque precisava, não tem reservas de petróleo nem potencial hidrelétrico, nem nada.
Mas esse é o principal perigo?
Há muitos riscos, não dá para dizer qual é o maior, o principal problema mesmo é que acidente nuclear não é que nem acidente aéreo. Se um avião cair, é uma tragédia para aquelas famílias, mas a tragédia não passa do local e do momento da queda. Num acidente nuclear, pode ser que não morram muitas pessoas na hora, mas as consequências duram por anos. É uma tristeza. É um desespero total. E um acidente nuclear pode se espalhar por um continente inteiro.
O Brasil trabalha na instalação da usina nuclear de Angra 3 e tem ainda a proposta de construção de uma usina nuclear no Nordeste, entre Pernambuco e Bahia.
Não é necessário. Isso é porque há um lobby violentíssimo da indústria nuclear. As empresas em países mais desenvolvidos investem muito em lobby, porque energia nuclear é muito caro. Então, para aliviar o custo deles, eles empurram para cima da gente.
Estamos comprando a ideia?
Estamos comprando. É como a história do bonde. O caipira nunca tinha visto um bonde, só andava a cavalo, e achou uma maravilha quando viu. O carioca muito malandro se aproveitou. Vendeu o bonde pra o caipira levar pra roça. Nós estamos comprando o bonde. Correr o risco das nucleares quando não se precisa é uma burrice.
A Alemanha, por exemplo, celebrou acordo com o Brasil para construção de usinas em Angra. É um dos países que faz esse lobby?
A Alemanha ainda tem consciência. Pior são os Estados Unidos. Eles são contra as hidrelétricas no Brasil, não aceitam que um país como o Brasil avance numa área diferente.

sexta-feira, 11 de março de 2011

2011 ONDE EVOLUÍMOS ?


UE e Otan decidem pôr fim ao regime de Kadafi, mas ainda não sabem como
BRUXELAS — Os ocidentais, que acordaram em acelerar o fim do regime de Muamar Kadafi e entrar em contato com a rebelião, passaram em revista os recursos, inclusive militares, disponíveis para acabar com crise na Líbia antes que ela escape do controle, mas não chegaram a um consenso.
A Otan acredita que "o tempo é curto na Líbia" e, por isso, está pronta para agir assim que obtiver o mandado, declarou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Anders Fogh Rasmussen, durante uma reunião de ministros da Defesa dos 28 países aliados.
Os participantes fizeram um balanço das diferentes operações possíveis, passando em revista as opções e recursos à disposição e tarefas a privilegiar, tais como imposição do embargo de armamentos decretado pela ONU, assistência humanitária e evacuação.
Eles tomaram duas decisões concretas: reforçar a presença marítima da Otan nas regiões próximas à Líbia e avaliar a ajuda humanitária que a ONU possa fornecer.
A Otan, lembrou ainda o secretário-geral, já ampliou a vigilância aérea do setor central do Mediterrâneo, próximo à Líbia, elevando para 24 horas, em vez de 10, o tempo de patrulha de seus aviões-radar Awacs posicionados desde o fim de 2009 na região para prevenção do terrorismo.
No entanto, três condições, relembrou Rasmussen, devem imperativamente ser preenchidas antes que a Otan entre em cena.
"Se a necessidade for demonstrada, se o mandado jurídico for claro e o apoio regional forte, estaremos prontos para levar nossa ajuda", informou.
Contudo, o Conselho de Segurança da ONU ainda não tocou na questão da zona de exclusão aérea acima da Líbia proposta pela França e Reino Unido. A Liga Árabe só deve se reunir no sábado para discutir sobre a Líbia.
Já os ministros das Relações Exteriores da UE apresentaram suas opiniões durante um almoço de trabalho. O encontro foi de preparação para a cúpula especial sobre a Líbia que deve reunir na sexta-feira os 27 chefes de Estado e de governo.
A França adotou sem esperar uma posição incisiva em todos os campos, tentando incentivar o resto da UE a seguir seu exemplo.
Paris reconheceu na manhã desta quinta-feira o Conselho Nacional de Transição (CNT), que reúne a oposição líbia, como sendo "representante legítimo" do povo líbio, para a surpresa de muitos de seus partidários europeus.
Além disso, segundo uma fonte próxima ao caso, o presidente francês Nicolas Sarkozy teria a intenção de propor aos colegas ataques aéreos.
Os dois anúncios causaram polêmica e divisão. "A Itália não participará de ataques contra a Líbia", advertiu logo o chefe da diplomacia italiana Franco Frattini.
Os ocidentais se mostraram ainda muito reservados sobre a questão da zona de exclusão aérea. A Alemanha se disse cética e a Itália condicionou seu apoio a uma resolução das Nações Unidas e ao "sinal verde da Liga Árabe".
Impedir a aviação de Trípoli de voar é uma operação militar que exigirá, de acordo com alguns, o bombardeio preventivo de baterias de mísseis ar-terra líbios.
Sobre o futuro do regime líbio, a unanimidade é facilmente encontrada, pelo menos verbalmente.
O chefe da diplomacia portuguesa, Luis Amado, foi muito explícito quanto a isso. "Do ponto de vista da comunidade internacional, o regime de Kadafi acabou", assim como sua "legitimidade", disse.
Mas, apesar de "todos os ministros estarem de acordo, ninguém sabe traduzir esta intenção em ação", reconheceu o colega italiano Franco Frattini.
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