sábado, 8 de outubro de 2011

¨VEM COMIGO¨ GOULART DE ANDRADE


RIO - Com mais de 50 anos de televisão e 78 de idade, Goulart de Andrade continua nos convidando para ir com ele, sem previsão de parar.

 O jornalista, que eternizou o bordão "Vem comigo!" em programas como o tradicional "Comando da madrugada", em diferentes emissoras, é um dos maiores representantes da reportagem investigativa televisiva do país: suas cerca de 15 mil horas de material gravado ocupam hoje dezenas de prateleiras da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. 

E, se depender de sua disposição, ainda vão ganhar a companhia de muitas outras. Atualmente, Andrade trabalha como freelancer fazendo matérias para o "SBT Repórter" - exibido às quartas, às 23h15m -, mas já tenta emplacar uma nova atração na emissora de Silvio Santos. Além disso, sua esposa, Margareth Bianchini, está escrevendo a biografia do jornalista. Mas a previsão de lançamento, segundo ele, ainda é uma incógnita:

- Ela começou a escrever há três anos e parou nos meus 18 anos de idade. Acho que ela morre antes de chegar à minha idade atual. Imagina quanta coisa ainda tem para contar - diz, bem-humorado, por telefone, de São Paulo.

Carioca de nascimento e paulista por adaptação, Andrade fala com empolgação das reportagens que vem produzindo para o "SBT Repórter". Ele destaca, por exemplo, um programa sobre as tendências mais modernas para tratamentos cardíacos; outro sobre a "visão dos cegos" e como os deficientes visuais conseguem jogar futebol e tirar fotografias, além de um intitulado "As poderosas", sobre as mulheres modernas ("Sempre foram poderosas, mas o sexo masculino é tão imbecil que não repara", afirma).

Seu método de trabalho, ele conta, não mudou muito. Mas a facilidade é maior hoje em dia.
- Faço dois ou três programas ao mesmo tempo sem problemas. São 50 anos de experiência, ? Preciso aproveitar esse know-how - gaba-se.
Mas a voz de Andrade ganha brilho mesmo é quando ele fala de "Túnel do tempo", seu projeto-xodó que aguarda a resposta do SBT para virar realidade.

- A ideia envolve todo o meu acervo. No programa, escolheríamos, por exemplo, uma reportagem que fiz há 30 anos e proporíamos a um grupo de jovens jornalistas o desafio de atualizar aquilo. No final, compararíamos as duas matérias para ver o que mudou e discutiríamos as projeções para o futuro. 

Tenho um carinho muito grande por esse projeto porque envolve a importância de mexer com a nova geração e conquistar a molecada. Estou agora na expectativa de que a Daniela ( Beyruti, diretora artística e de programação do SBT) goste da ideia, aprove que eu faça e, consequentemente, me contrate! - explica, ansioso.

Não é por acaso que Andrade decidiu vender seu projeto mais querido para o SBT. Segundo ele, a familiaridade com a emissora é forte e o carisma de Silvio Santos e o carinho que sente pelo apresentador contribuem para que se sinta à vontade trabalhando lá.

- Fui o fundador do "SBT Repórter", quando passei por lá pela primeira vez. Sou companheiro do Silvio desde a época em que ele alugava espaços na TV Tupi, onde eu trabalhava, lá nos idos de 1964. Visitava muito a casa dele, jogávamos sinuca... Não temos tanta intimidade hoje em dia, mas tenho um carinho enorme por ele e pelo SBT. Embora eu já tenha passado por quase todas as emissoras, confesso que o lugar onde melhor me adaptei trabalhando foi lá - relembra.



Na hora de eleger suas reportagens mais marcantes, ele escorrega dizendo ser impossível escolher uma. Mas fala sobre alguns programas clássicos, normalmente citados pelos espectadores. Lembradas pelo inusitado de seus temas ou por trazerem à tona assuntos ainda pouco explorados profundamente pelo jornalismo, suas matérias sempre despertaram amor e ódio. O que em muito se deve ao estilo do jornalista, que não costuma medir esforços para mostrar o que deseja.

- Não é muito prático nem ético para mim ficar elegendo dentro deste volume todo os melhores momentos. Eu me reconheço em cada uma das matérias que eu fiz, lembro exatamente de todas. São todos filhos e filhas que me fizeram trabalhar com paixão, o que move meu trabalho. As pessoas me perguntam como aguento, com 78 anos, ficar pulando para lá e para cá. Vou permanecer fazendo até me expulsarem ou abaterem - decreta, rindo. - Mas é claro que há algumas matérias sempre citadas pelo público em geral. Uma é a dos travestis, com a qual acabei ganhando um prêmio em Nova York. Outra bem famosa mostrava o nascimento do meu neto, que hoje tem quase 30 anos. Fiz ainda a reportagem sobre o primeiro buraco para construir a primeira linha do metrô em São Paulo -- lista.

Os exemplos citados por Andrade ajudam a entender sua forma de trabalho. Para documentar o estilo de vida dos travestis do underground paulista, ele "se montou" e saiu a campo para sentir na pele as dificuldades. Já no programa sobre partos, filmou e expôs a cesariana da própria filha. Seus detratores costumam citar como exagerada sua reportagem sobre a morte de PC Farias. Na época, ele exibiu imagens da autópsia do corpo do tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, assassinado em 1996.

Enquanto aguarda a batida do martelo sobre seu projeto, Andrade segue desenvolvendo suas pautas para o "SBT Repórter". Ele se derrama em elogios à equipe que o ajuda nesta empreitada.

- Eles são excelentes. A produtora, Aline Sgarbi, me ajuda demais. Tenho também um repórter cinematográfico, o Serginho ( Sérgio Lúcio de Oliveira), que é precioso. É o mais competente fabricante de pimenta do Cone Sul, mas ainda assim insiste no jornalismo. Entendo perfeitamente porque sou igualzinho - diz, rindo.


20 ANOS DEPOIS DA REPORTAGEM SOBRE O CONSUMO DO CRACK NADA MUDOU




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