“Manifesto de Indignação de um ex-petista” - 02/08/2005
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Vendo e ouvindo as declarações do Sr. Marcos Valério, do Delúbio, do novo ministro Luiz Marinho, do Sr. Silvio Pereira e do Presidente Lula, sinto-me como se fosse um “palhaço” e verdadeiramente um “idiota”. Como servidor público e, antes de tudo, cidadão, o que vi e ouvi é uma afronta a quem possui um razoável conhecimento de vida e sentimento de cidadania.
Primeiro, porque parece que essas pessoas combinaram as falas. Assumiram os erros, mas querem nos fazer crer que são apenas “errinhos”, perfeitamente justificáveis. O discurso é sempre o mesmo: “Todos os partidos agem assim”. “O “caixa 2” nos partidos políticos é institucional”. “Não há nada demais em repassar 30 milhões de reais aos partidários do PT”. “O país não pode parar”. “É preciso dar condição de governabilidade”. Passam a idéia que amealhar patrimônio totalmente incompatível como a remuneração é coisa normal. Só se for para essa “casta” de brasileiros. Porque para o restante dos brasileiros honestos, essas atitudes são motivos de “vergonha” e fonte de suspeita para o “Leão”, sempre ávido dos sinais exteriores de riqueza. Segundo, porque pensam que os cidadãos brasileiros são ignorantes ou ingênuos a ponto de acreditar na possibilidade de alguém “dar 30 milhões de reais” a outra pessoa física, de forma benevolente. Digo “dar” porque não há quem faça um contrato de empréstimo de valor tão absurdamente elevado sem qualquer garantia real como contrapartida, exceto se houver compromisso de ganhar algo em troca, e claro, de valor superior ao que foi doado. Ora, se o Sr. Delúbio não possui bens suficientes para honrar o “empréstimo”, nem o PT deu garantias, de onde viria, então, o pagamento do malfadado “empréstimo”? Parece óbvio que a contrapartida seriam os contratos milionários e superfaturados celebrados entre órgãos do governo com as empresas de publicidade do Sr. Marcos Valério, cujo pagamento recebido seria repassado novamente aos apadrinhados do próprio PT e aos políticos de diversos partidos aliados. Tudo de forma escusa e ilícita, naturalmente. Como pôde o ex-PT de meus sonhos descer tanto? Como qualquer cidadão, fico imaginando o trato feito entre Marcos Valério e Delúbio. Poderia ser assim: “Olha, Delúbio, eu dou o dinheiro, sim, para quem você ou o PT indicar, mas somente para sacar na boca do caixa e desde que haja um compromisso do PT em honrar essa doação mediante contrato de publicidade do governo com minhas empresas, OK”? Ainda assim, essa relação de confiança promíscua entre o PT (e talvez outros partidos políticos) com o Sr. Marcos Valério deve vir de longa data e de várias formas. Isso porque a quantia é extremamente vultosa. Há de ter a segurança do retorno. Ora, se o contrato era somente de “gaveta”, como disseram os dois (Valério e Delúbio), qual a garantia que o Marcos Valério e suas empresas teriam, se o Delúbio não representasse “de fato” o próprio PT e o governo? Terceiro, como acreditar que os principais líderes do PT não tinham conhecimento do “contrato de gaveta” se quem “pagaria a conta” seria o próprio governo, diretamente ou mediante seus órgãos e estatais? Como acreditar que o próprio presidente não sabia se, desde que o José Dirceu foi presidente do PT, o objetivo maior do partido era alcançar a Presidência da República e tudo foi feito para colocar Lula-lá? Com tristeza, percebo hoje, pretendia-se também, na surdina, locupletarem-se à custa do dinheiro público. Quarto, como acreditar que o governo é distinto do PT, se o presidente e seus principais ministros eram dirigentes máximos desse partido, até a eleição de Lula? Como acreditar nessa desvinculação, se a nova cúpula do PT estava até outro dia como ministros do governo? Por fim, resisto a me sentir como um “palhaço”. Sou apenas um brasileiro, como milhões, que assistem estarrecidos e indignados ao jogo degradante e sujo dos políticos brasileiros. E pior, “ex-eleitor” do PT, a quem depositei as últimas esperanças de eleger pessoas de um partido político sério, sem fisiologismos e livres de corrupção. O PT extrapolou no exercício do poder, demonstrando que os dirigentes estavam despreparados para exercê-lo, esquecendo-se que ocupam cargos políticos por indicação do povo, verdadeiros donos do poder. Meus “ex-políticos” petistas estão fazendo pior, muito pior do que os “Colloridos”. Por muito menos, o grupo de Collor foi derrubado e suspenso os direitos políticos do ex-presidente. Torna-se inacreditável como alguns políticos do PT procuram justificar seus erros. Aliás, não são erros. São crimes, eleitorais e penais. Alguns justificam pelo lugar comum da institucionalização da corrupção, como se os erros praticados por outros justificassem aqueles praticados pelo PT. Se assim é, nossos partidos políticos não merecem crédito. Outros justificam e choram a vida “dura” que tiveram no período da ditadura, como se o país estivesse em débito para com eles e o enriquecimento ilícito praticado à custa dos cofres públicos fosse uma espécie de compensação devida pelo Estado. Equivocam-se os políticos do PT num caso e outro. O “ex-PT” de meus sonhos, que virou o PT do Planalto chafurda em sua própria ambição desmedida. O PT assumiu a velha máxima de Maquiavel “o fim justifica os meios”. E o fim era o poder, apenas o poder. Simplesmente o poder. Nesse momento, o que fazem os membros do Congresso Nacional, legítimos representantes do povo? Os senhores deputados e senadores do Congresso Nacional devem ter a coragem de prestar explicações à sociedade, ainda que tenham de assumir seus próprios erros e não se escudarem apenas na CPI. Percebe-se um grande silêncio no restante dos membros do Poder Legislativo. Esquecem-se, nossos líderes, do grande alcance do mau exemplo dado. Na prática, se prevalecer a impunidade, fica implícita a idéia de que “roubar e ser corrupto” vale a pena. Está em jogo a auto-estima dos brasileiros, a questão da obediência civil e a corrupção na vida pública. Está em jogo, também, a credibilidade dos políticos. O fim disso tudo pode ser a convicção na população de que não vale a pena existir democracia representativa num país subdesenvolvido, submisso ao neoliberalismo e com instituições fracas. Pior ainda é não haver alternativas. A sociedade não pode aceitar tamanho lamaçal nem ficar à mercê de eventual convocação da mídia dominante para manifestar seu protesto. O momento é de perplexidade e decepção. Urge que se fiscalizem os atos da CPI e não se admitam conchavos com o fim de proteger políticos de um ou outro partido. Necessário que se publique a lista dos políticos favorecidos. O povo precisa saber em quem pode confiar. Se for caso de “impeachment” de Presidente e Governadores, que seja feito e com responsabilização penal. Aliás, melhor para o Presidente Lula seria renunciar a seu cargo. Seria uma demonstração de lealdade e honestidade para quem o elegeu, como símbolo da última esperança. É verdade, Presidente, o povo brasileiro, sofredor e ingênuo, mas de boa índole, não merece isso. http://www.affemg.com.br/aff_det_artigos.asp?cod_artigo=19 |
domingo, 4 de outubro de 2009
MENSALÃO O MAIOR PESADELO PETISTA
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